Resumo: Artigo 36729
Transgênese: a digitalização e edição da vida e suas conseqüências culturais (10,29,79,109)
Jonatas Ferreira, UFPE, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 210 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 55 - Chair: Debatedor a Confirmar
Abstract.
Não precisaríamos realizar um grande esforço analítico para perceber a importância da tecnologia de informação nos desenvolvimentos recentes da biologia molecular. As grandes proezas até agora realizadas foram claramente no campo da bioinformática, na provisão de tecnologia para que o mais elementar da nascente genômica fosse realizado. Medicina personalizada, terapia genética etc. são inovações que ainda se colocam no terreno da possibilidade. O que quer que a ciência possa realizar nessa área, e evidentemente muito se fará, estará intimamente relacionado com a qualidade de avanços que a bioinformática realizará. A imbricação entre genômica e informática é algo que julgo particularmente relevante, e que, de um modo mais amplo, diz respeito à convergência de paradigmas científicos entre as ciências da vida e a cibernética. Não é à toa que a biologia molecular tenha se popularizou a partir de tropos que indicam uma proximidade entre esses dois campos do conhecimento. Software da vida, chips genéticos, fala-se. Os organismos deixam de ser entendidos como conjunto ajustado de engrenagens, como o foram nos séculos XIX e XX, e passam a ser a "expressão" de instruções moleculares. A suposição de que, em seu nível mais elementar, a vida é apenas informação (passível de leitura, edição) nos coloca no terreno de interseção entre estas duas áreas de conhecimento. Desde o seu surgimento, a cibernética procurou se constituir em lingua franca dos projetos tecnológicos de controle do mundo natural. A própria idéia de comunicação, de linguagem, de informação são especificamente definidas no contexto de uma ciência que viabiliza a perfomance, que garante a realização de tarefas, e, para tal, promove a desmaterialização, a descorporificação do real. Linguagem, então, passa a ser aquilo que permite uma instrução ser proferida claramente, de modo a garantir a execução de uma tarefa qualquer, comunicação é o fluxo mediante o qual se garante que essa tarefa será realizada ao longo de um tempo determinado. E informação é um padrão que se repete ao longo do tempo. A biotecnologia com o auxílio da nanotecnologia investe hoje, com sucesso, na produção de medicamentos ditos inteligentes; drogas capazes de se direcionar para e reconhecer alvos específicos, tais como, tecidos cancerosos e ali realizar sua tarefa química de modo controlado, segundo as necessidades do paciente. Ora, o princípio aqui é o mesmo que faz operar os mísseis inteligentes, um dos primeiros projetos da cibernética. O que interessa aqui é a nova concepção de vida que começa a ser produzida pela biologia molecular. A inteireza biológica do humano passa a ser um conceito questionável. Mais recentemente, o primeiro genoma sintético foi produzido; espera-se produzir em breve seres unicelulares. A biotecnologia já não se dedica à reprodução da vida, mas à sua produção. A reconstituição genética promovida pela biologia molecular, se não contradiz politicamente a noção de inteireza plástica dos corpos (como já temos a partir de Darwin), já não depende desse artifício para transformar o mundo orgânico. A biologia molecular não respeita os limites entre as espécies ou entre os corpos, mas os percebem como atualizações virtuais de uma matriz informacional - e esta matriz informacional é a própria vida no planeta. A configuração desse novo paradigma para as ciências da vida e sua importância para a compreensão de temas como saúde, corporeidade, existência é o objeto da comunicação que pretendo expor na ESOCITE.